Ninguém me ensinou a cozinhar imagem. Ninguém me disse como por energia numa coisa, trabalhar nela, e esperar que saia algo. E não to falando de ISO, obturador, essas paradas aí que cês aprenderam sei lá onde, mas talvez minha fotometria não está calibrada a capturar espaços brancos e ocos, corpos vazios e olhos vagos.
Aqui cês tão vendo minha vó assistindo o vídeo que ela mesma fez num celular que eu nem sabia que podia gravar vídeo. Vó não é conhecedora profunda da língua colonial portuguesa, nem desse alfabeto que a gente tem que saber, ela tem outro conhecimento na raiz e ela aprendeu a fazer vídeo! Esse açude fica em Baturité, se chama Tijuquinha e nunca vi ele de perto, ou se vi, não lembro, mas mãe foi e disse que tá seco.

Aprendi a cozinhar com 12 anos. Ninguém me ensinou não. Aprendi com o Tempo que Olhar é mais do que ter olhos que enxergam, olhar requer percepção, requer envolvimento, é necessário observação. Não espero por alguém pra por o feijão na panela de pressão: olhos a gente tem pra usar, mesmo que um deles seja cego.
Faz um tempo que procuro pelas palavras certas que deem conta das imagens que quero costurar em um trabalho, um filme-futuro, um filme que seja feito para o mundo e não pra mim. Tenho acreditado no cinema de outra forma, não recebi a formação adequada e tive que me fazer A formação na rua, no chão de casa, no olho com amiges, nos sussurros no pé douvido, na rede que dormi, nos livros que não li, nos eclipses que não vejo e na minha limitação de vista e mental.
Percebe, tem coisas que a gente só aprende tendo percepção e observação.