eu sou a vírgula do seu carnaval

eu sou a cor roxa de seu dedo inchado
a linha de 1 milímetro que te corta ao meio
eu sou essa sua falta
eu sou a areia presa entre os dedos dos pés 
os pés que se sujam também da lama da chuva
e cuspe mijo restos de cerveja cachaça glitter
eu sou o abraço forte que te esmaga 
a dor
na coluna
costas quebradas
peito sem ar
abraço de meia hora
debaixo da chuva
chuva fraca como o meu corpo fraco que te/se abraça a cada dois minutos nesse tempo inerte
eu sou o braço que te envolve
"e torna impossível sonhar"
eu sou o que tu quer enganar 
eu sou a pedra
eu sou esse prédio de 50 anos
(prestes a ser derrubado)
eu sou o corpo que tu quer enganar
eu sou aquele que tu quer enganar
eu sou talvez o amigo de meses
o vento que bate nas tuas pernas de frio
e novamente costas que sente dor e frio
e chuva
e ladainha sobre amantes
e os ventos que tu não me deu
e eu sou o meu próprio jogo que é teu também
e eu sou a saudade que parece ser fraca 
fraco como eu
mas que existe
que existo de fato
aqui dentro de tu
e também ali nele
e na menina que não está aqui
hoje
de manhã //
eu sou o corpo cego a travessia para cegos

Fortaleza, carnaval de 2016

  • Carro branco ou reaprender os verbos
  • eu sou a vírgula do seu carnaval
  • Dormir com uma planta debaixo da rede
  • Finja que não me conhece e recomece tudo, de novo
  • Plantas novas, café coado, suor na pele e outras coisas
  • Corrida