Tenho o costume de, a qualquer momento, em qualquer situação, abrir a página do google notícias. Sempre estou na espera de alguma notícia interessante para ler. Leio todas as manchetes de todas as sessões até rodar toda a página inicial: principais notícias, local, Brasil, mundo, entretenimento, negócios, música, moda, fontes, e a mais nova, checagem de fatos, que fica no rodapé. Leio somente as manchetes, por vezes me interesso por algo ao ponto de clicar e abrir algum dos sites. Outras vezes clico em cobertura completa para ler o ponto de vista de vários jornais sobre o mesmo fato, alguns já desconfio de cara, outros forjam imparcialidade, outros, mais aguerridos em brigas políticas, tentam ligar a descoberta de uma espécie de aranha na Serra da Capivara com as próximas eleições presidenciais.
Dessa vez fui propositalmente em busca de alguma notícia que causasse força e vida: Enorme explosão de estrela será visível da Terra pela terceira vez na história; entenda! Uma notícia que viesse para diminuir a ansiedade por notícias, uma notícia que viesse para me dar calma e sossego, uma notícia que abrisse meus olhos para algo bom, para algo que me acalentasse feito água gelada na cabeça quente. Mas o título era bem mais interessante que o texto em si, que se esgotava rápido e pedia para que eu assinasse o site para só então poder continuar lendo essa e outras notícias. Quando foi que começamos a pagar para ler notícias? Quando foi que eu achei que repetir tanto essa palavra me faria esquecer das minhas tantas tentativas de, ora me manter atualizado, outrora buscar sentido no silêncio?
Eu estava na praia lendo sobre isso, e pelo que entendi, o evento é o resultado da interação entre duas estrelas em uma constelação distante. O encontro causa uma explosão de luz tão forte que parece que uma nova estrela surgiu. Poderia fazer várias analogias sobre isso, mas sinto que não vale a pena, seria uma poesia óbvia. Naquela manhã o sol estava completamente azul, a maré estava alta e ainda não dava para ver os buracos que tem na boca do mar. Mesmo sem as piscinas naturais, quis molhar minha cabeça e sentir o sal roçando nos meus cabelos agora curtos. Nunca aprendi a nadar, nem sei mergulhar, e até dia desses não cogitava entrar no mar nem que fosse só para molhar os pés; eu ainda tenho um medo suficiente dele que me protege de ir em direção do fundo, mas tenho desejos e me guio por eles muitas das vezes.
Meu tempo na praia é sempre muito curto, atravesso meia cidade até chegar em casa. No segundo terminal, o meu terceiro ônibus já está para chegar. Escolho uma cadeira quente do lado que logo-logo será o lado da sombra, assim que ônibus fizer o balão na avenida próxima a lagoa. Por vezes me disseram que eu nunca respondo a pergunta de como você está? quando ela é devolvida para mim; numa vez respondi que “sempre me concentro no que você diz, que esqueço da pergunta sobre mim“. Talvez eu ache que os meus passos não sejam tão interessantes assim ao ponto de virarem manchete, release, nota para imprensa, e me vejo refazendo o mesmo ato contínuas vezes, com pessoas distintas. Sou um ótimo ouvinte, sempre digo isso, o inverso do contador de histórias, aquele que esconde os murmúrios e abafa o silêncio.
Também procurei por notícias suas nas redes, nos sites, nos barcos que conectam os maranhões, os dragões e as ruas esburacadas. Não vejo meus olhos chorando a tanto tempo que as lágrimas saem secas com o ar rarefeito dessa casa. Vou ao mercado tentando fugir do peso da sua ausência e converso na fila com pessoas igualmente cansadas do dia a dia. Hoje foi o quinto dia útil do mês numa noite de sexta-feira, e chega a vez da mulher a minha frente com seu carrinho cheio; ela me diz que já tinha passado todas as suas compras em outro caixa mas que o sistema tava fora do ar e teve que vir para esse. Pensei em ajudá-la e ir tirando suas coisas do carrinho e colocando-as na esteira rolante do caixa enquanto que ela embala aquilo que já foi passado pelo atendente. Mas entendo que mesmo que estejamos cansados, vamos preferir fazer sozinhos aquilo que precisamos fazer. Deixei pra lá.
Resolvi tomar café depois de vinte anos, comprei um bolo de chocolate, e com muita consciência do mal que ambos me causariam, quis sentir o que as outras pessoas sentem quando só querem tomar um cafezinho no meio da confusão. Nada além disso, um café no calor de 32 graus e um bolo com sabor de azia e estufamento estomacal. Esses dias também comprei uma planta nova de uma espécie que eu não sei o nome; comprei terra e fiz mudas de espécies que eu sei os nomes; replantei outras que esqueci os nomes. De novidade só tenho isso, plantas, café forte, saudades, suor na pele.





