Objeto | Clébson Francisco, 2019.
Bordado com linha branca de algodão sobre tecido preto de algodão com a frase “toda violência favorece a economia” e com o contorno do mapa do Brasil ao redor da frase. Dimensões: 77cm x 85cm.
Todos os direitos reservados © Clébson Oscar, 2019
Exposta na exposição coletiva QUE VAI CHOVER AMANHÃ, curadoria de Junior Pimenta e Ana Cecília Soares, em cartaz no Sobrado José Lourenço, agosto-setembro de 2019, Fortaleza/CE.
Toda violência favorece a economia | Descrição
A população negra não recebeu nenhum tipo de indenização com a assinatura da abolição da escravidão no Brasil, nenhum reparo foi dado para tentar minimizar os mais de trezentos anos de sequestros, escravidão, torturas, estupros, assassinatos, suicídios e todo tipo de violência que fora utilizada para subalternizar e mutilar milhões de pessoas. A escravidão não foi chamada de holocausto.
Por outro lado, os senhores receberam do governo indenizações das mais variadas espécies para reparar as eventuais perdas econômicas devido à falta de mão de obra. Em muitos casos a indenização era a condição de que os escravizados, mesmo alforriados, permanecessem durante os próximos dois/quatro anos servindo os seus antigos senhores, como forma de compensação por serem agora livres.
O estado do Ceará, que se orgulha de ter sido o primeiro território a abolir o trabalho escravo quatro anos antes do país, a indenização era tão mais vantajosa do que manter pessoas escravizadas que muitos senhores davam a carta de alforria duas/três vezes para a mesma pessoa, já que a cada libertação era uma indenização que se ganhava. Há relatos de pessoas negras que receberam o título de libertação várias vezes, mesmo que essa liberdade seja algo ficcional.
Toda violência é economicamente rentável, obviamente não para o violentado, e sim, para o executor, e para o sistema na qual o executor age ao seu favor, e também para aqueles que nem sempre são signatários da violência, como diz Charles Mills, mas são beneficiários.
“Toda violência favorece a economia” é um trabalho que visa relacionar a violência sistémica aos povos negros e indígenas como um dos elementos que proporcionou o avanço econômico do país, violência essa que com o passar dos anos e décadas <pós-abolição> foi se atualizando e tomando novas formas de opressão social, cultural e política.