Texto curatorial da exposição homônima, em cartaz na Carnaúba Cultural, junho de 2019.
Desse canto que a gente vem.
Corre notícia que terra preta quando incha d’água brota seres fortes. E de pés cheio de lama, arrasta essa terra escura pelos quatro cantos que apontam o olhos, pelas várias direções que o tempo nos leva a caminhar. Abre os caminho rota adentro, refaz trajetos não mais esquecidos, constrói aqui/ali bases de sustentação pra um cais de retorno, repouso. É, às vezes teimando em voltar no passado, mas o futuro tá é aqui.
O vento corre cortando a pele y deixando o sangue escorrer, a pálpebra seca, os brancos cansam y o pensamento de esvai. Mas aqui, nessa terra que a gente vem, a gente toma banho é de fogo y escolhe nossa espada entre as plantas, abre [mais uma vez] o caminho y deixar que outros por ele também passem. Desse canto que a gente vem, olhar enviesado é o básico para dias comuns, andar feito cobra rasteira é a nossa norma. Deixar arder o corpo até queimar o tempo.
Desse canto que a gente chega não há unidade, não há uniformidade, não há pasteurização. O que se faz aqui é mais do que a forma, a estética ou a imagem apreendida, e sim, o que atravessa o conteúdo posto e deixa o ar impregnado de dúvidas, de cortes, de não-interpretações. Nas questões costuradas pela experiência que não precisam da teoria para serem validadas. O objeto reconfigura-se, a imagem se expande e a forma se constrói. Não é sobre a forma, é sobre o conteúdo. Não é sobre semelhanças, é sobre viver y sobreviver.
Território somos nós, quer queiram eles ou não, vocês querendo ou não, território é a gente porque a gente é o que é. Y pras bandas que a gente vai, não tem volta, não.
Clébson Oscar, junho de 2019