Já é a segunda vez essa semana que senti algo apertando o meu pescoço. A primeira vez eu tava deitado na rede quase cochilando. A segunda foi hoje à noite quando voltava para casa de ônibus. Quando na rede, eu sentia as duas mãos me apertando o pescoço bem abaixo do gogó, e sentia os antebraços pousados no meu peito. Já no ônibus, era apenas uma mão, talvez a direita, que apertava bem forte. Eu abri os olhos e peguei no meu pescoço. Não tinha nada. Fechei os olhos e me entreguei ao enforcamento, quis sentir até onde isso iria. Foi pressionando. Até parar e permanecer daquele jeito apertado. Não era a gola que me apertava, em ambas as vezes usava camisas com golas frouxas.
Peguei três ônibus para chegar em casa. No primeiro, eu vi da janela um homem deitado no meio fio da av. Imperador. Luz amarela dos postes. Luz amarela do farol do ônibus que vinha logo atrás. Pensei em fotografar aquilo, era uma imagem forte e seria a minha primeira fotografia em analógica, só que deixei a câmera em casa. Dias antes havia comprado um filme e pegue a câmera do Pedro. Ainda não fiz nenhuma foto com ela, mas, na realidade, eu acredito que a primeira foto foi essa do homem deitado no meio-fio. Noite de sábado.
Eu tenho a impressão de ter visto as mesmas pessoas em lugares diferentes, nessas últimas horas, nesses três ônibus, nesses lugares que fui. Quando chegava na esquina de casa vi um rapaz sentado na calçada, ele tinha roupas pretas e camisa longa, um rosto triste. Olhei diretamente para ele, ele de volta. Dobrei na minha rua. Quis olhar para trás, mas senti que ele ainda olhava para mim.
Parece que choveu essa semana em Fortaleza, deve ter sido tão rápido que nem percebi.
Escrevi essas palavras abaixo em algum momento dessa semana. Não acho que são endereçadas a alguém, ou a algo. São apenas palavras.